Embora o Nicolau fosse um grande amigo, errei feio ao convidá-lo para morar conosco. Bem que minha esposa avisou - "Isso não vai dar certo!" - , mas eu simplesmente não podia permitir que o meu velho camarada ficasse na rua.
Como é costume dizer no interior, abri as portas do lar e do coração.
- Fique à vontade, Nicolau. Faça de conta que a casa é sua.
Como estivéssemos sem empregada, ofereci a ele o quartinho dos fundos, ao qual aceitou com efusão. Cheguei mesmo a dizer, precipitado, que ele era o novo membro da família.
- Sei não - disse minha mulher, desconfiada.
Com efeito, dois dias foram suficientes para que o Nicolau começasse a desfiar seus hábitos exóticos. Na segunda-feira, quando eu e minha esposa voltamos do trabalho, a casa estava de pernas pro ar. A cozinha, a sala, os quartos... uma bagunça dos infernos. E o Nicolau? Encontrei-o deitado, ou melhor, esparramado na nossa cama de casal.
- Pô, Nicolau! A gente não combinou que você dormiria lá nos fundos?
Levantou-se em silêncio, cabisbaixo, e caminhou para o quarto da empregada. Voltou a dormir, enquanto eu e minha mulher colocávamos as coisas em ordem. Mas isso ainda foi pouco se eu contar que a situação se repetiu por três dias seguidos.
- Eu não disse? - bufava minha esposa. - Você precisa tomar uma providência.
- Calma - eu respondia, mas já sem muitos argumentos. - Vamos dar tempo ao tempo.
Num domingo, enquanto eu tirava uma soneca, senti que alguém acariciava as minhas costas. Pensei que fosse minha mulher. Quando me virei...
- Que é isso, Nicolau?! Sai fora, ô!
Sim, sim, aquilo estava indo longe demais. Naquela madrugada, acordei o meu amigo e disse que tinha algo a lhe mostrar. Fomos de carro para a periferia da cidade.
- Muita coisa mudou, Nicolau. Lá na estância havia campos, espaço, mas aqui é diferente. Temos que nos separar.
Ao amanhecer, antes de lhe virar as costas, pude ver como me olhava (e como balançava o rabo) por entre as grades do canil municipal.
Autor: Maicon Tenfen (Publicação: JSC em 26/02/08)
PS: esse mereceu ser postado ;)
26 fevereiro 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário